domingo, abril 04, 2004

Um pouco de História

..... " Era assim Ponta Delgada quando a Alemanha delarou guerra a Portugal em Março de 1916. O primeiro sinal do conflito foi a apreensão de vários barcos alemães ancorados no porto, entre os quais o que depois sob o nome de LIMA serviu o arquipélago durante dezenas de anos como transporte de passageiros. Outra consequência que se seguiu a breve trecho foi a transformação do passeio da Mãe de Deus, colina ajardinada a dois passos do Relvão, num fortim para defesa da cidade, aliás muito precária porque a única peça de artilharia que lá se instalou era de pequeno calibre. Para o efeito teve de ser demolida a ermida que dava o nome ao local e era como um aceno da cidade a quem vinha de longe, demolição que os habitantes nunca viram com bons olhos, tomando-a por um desacato aos seus sentimentos religiosos.
A guerra começou então a rondar o arquipélago, com notícias de afundamentos de barcos mercantes por submarinos alemães nas vizinhanças...."
...." vieram a saber que se tratava do ataque de um submarino alemão e, correndo ao adro de S.Pedro, o ponto de observação mais acessível sobre o mar, ainda avistaram ao longe o clarão de um tiro disparado sobre o barco do Mansinho, que navegava na rota de Santa Maria. A defesa da cidade fora obra do transporte de guerra americano Orion que disparando constantemente sobre o submarino o impedira de acertar a pontaria, ao mesmo tempo que o obrigava a afastar-se. (O Orion achava-se em Ponta Delgada a sofrer reparações na hélice, tendo por isso a popa, armada com uma peça de artilharia, mais alta que o quebra-mar)." ..." A cidade ficara incólume, enquanto nas Fajãs tinham caído numerosas granadas que ocasionaram um morto e vários feridos."
"Foi a única acção de guerra contra os Açores, sem dúvida porque daí em diante as armadas norte-americanas enxameavam os seus mares em demanda da base naval de Ponta Delgada. Porém a cidade do Funchal havia de ser novamente bombardeada, com mortos e feridos.
A base naval americana, instalada em 1917, ficou sob o comando do almirante H.O.Dunn, com o quartel-general no largo de S.Pedro, situando-se no Campo Açores, às Pedreiras da Doca, um acampamento militar de casernas pré-fabricadas. A mais sensacional novidade que os Norte-Americanos trouxeram foi a base de hidroaviões instalada no varadouro junto ao forte de S.Brás. Era do aterro do Corpo Santo que lhe ficava ao lado que os Micaelenses assistiam à montagem das oficinas e, logo a seguir, dos pequenos hidros de dois lugares que deslizavam pelas águas do porto para irem levantar voo por alturas de S.Pedro. Com que indizível pasmo viam máquinas voadoras pela primeira vez, ágeis como andorinhas, a que também se podiam comparar pelo tamanho, vistas à distância! "...
in "Ponta Delgada 450 Anos de Cidade", Fátima Sequeira Dias, p. 115, 116
Texto de Manuel Barbosa, "Memórias das Ilhas Desafortunadas".