quinta-feira, março 11, 2004

Terrorismo

“Terrorismo”, é uma palavra que cresceu comigo, porque desde muito pequena que a oiço. “Terroristas” era o nome que o Estado Novo dava aos pretos da antiga África Portuguesa, que queriam a independência da sua terra. “Turras”, diziam aqueles que falavam num Português mais livre. Em pequena, então, nessas épocas, eu associava infantilmente a palavra “terrorista” aos pretos e à África. Depois, um pouco mais tarde, ouvi chamar “terroristas” a Henrique Galvão, quando “desviou” o paquete” Santa Maria”, a Humberto Delgado... Percebi nessa altura que a palavra afinal também era associável e aplicável a brancos. Comecei a perceber então que tudo o que fosse e se manifestasse contra o Estado daquela altura, era “terrorista”.
Com o passar dos tempos, a palavra, tem-se vindo a clarificar. As ideias, pelo contrário, não acompanham essa clarificação. Torna-se-me tremendamente difícil distinguir e esmiuçar as situações, perceber onde começa o dito “terrorismo” e consequentemente onde vem a acabar.
Se entendermos que “terrorismo” é tentar impôr as nossas ideias atravez de actos violentos de terror, de rebentamento de bombas, explosão de aviões ou de comboios, matando inocentes, ficamos por aí mesmo e está tudo esclarecido. Mas se, no entanto, entendermos que “terrorismo” também é tentar impôr as nossas ideias atravez da força, da opressão, da subjugação de Povos e de Culturas, do domínio puro e simples do mais forte sobre o mais fraco, a palavra estende-se amplamente e chega a adquirir um envolvimento quaze mútuo. Quero eu dizer que, se calhar, “terrorista” não será só aquele que age, será também aquele que o provoca. De qualquer forma, para ambos, deverá haver um lugar na História.